O que é Planejamento Estratégico Situacional: definição e como funciona na prática

Guilherme Rabello

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Muita gente acredita que, ao montar um planejamento estratégico no início do ano, está blindando a empresa contra os imprevistos. Mas a verdade é que nenhum plano resiste intacto à realidade em um mundo tão dinâmico quanto este que a gente vive. É aí que entra o Planejamento Estratégico Situacional, ou apenas PES.

O que parecia certeiro em janeiro pode virar um obstáculo em março. E é exatamente nesse momento — quando o cenário muda — que muitas lideranças travam. Em vez de revisar os rumos com consciência e método, acabam improvisando. E aí, o que era para ser uma rota clara vira um caminho cheio de desvios. Quando chega dezembro, a sensação é de que o ano foi tocado no automático.

Ao longo dos últimos anos, vi o que acontece quando a estratégia se desconecta da realidade. Os indicadores param de fazer sentido, os times se perdem nas prioridades e os líderes passam a reagir em vez de conduzir.

Se esse cenário faz parte da sua realidade, a seguir vou te explicar tudo o que você precisa saber a respeito do Planejamento Estratégico Situacional. Confira!

planejamento estrategico

O que é planejamento estratégico situacional?

Diferente do planejamento estratégico tradicional, o situacional tem um foco muito específico: construir caminhos para lidar com um problema especifico da empresa.

Idealizado e desenvolvido pelo economista chileno Carlos Matus no início da década de 1970, o Planejamento Estratégico Situacional (PES) é uma método criado, inicialmente, para lidar enfrentando os desafios da administração pública. No entanto, se tornou bastante comum em grandes empresa.

Diferentemente da abordagem tradicional, a flexibilidade é a palavra-chave no planejamento situacional. Os planos de ação elaborados podem passar por adaptações e reformulações de acordo com o comportamento de diferentes variáveis situacionais.

A ideia é que essa flexibilização sugerida no PES é especialmente valiosa para líderes que estão vivendo momentos de mudança: fusões, crises, reformulações internas ou crescimento acelerado. Quando o cenário muda o tempo todo, o planejamento tradicional tende a ficar obsoleto muito rápido. Já o situacional te dá um mapa mais realista, que pode ser ajustado conforme os fatos se desenrolam.

Segundo o próprio Carlus Matus, o Planejamento Estratégico Situacional foge do determinismo e da estaticidade dos problemas, algo presente no método tradicional.

Eu imagino que você já se viu travando decisões porque “não era isso que estava no plano”. Certo? Pois bem, talvez seja hora de repensar o jeito como sua empresa planeja. O mundo em que vivemos está exigindo que as empresas estejam impostos à mudanças constantes e aqueles que não se adaptam, estão sofrendo mais para crescer.

Leia também: Análise de cenários para planejamento estratégico: conheça as melhores ferramentas

As variáveis do Planejamento Estratégico Situacional

O cerne de todo Planejamento Estratégico Situacional está no entendimento das variáveis. Ao identificar um problema, é fundamental entender que existem variáveis que não estão sob o seu controle e aquelas que você pode influenciar diretamente.

A seguir explico mais o contexto de cada uma delas:

Variáveis controláveis

As variáveis controláveis são aquelas sobre as quais a empresa tem influência direta. Elas estão sob sua alçada de decisão e ação — ou seja, podem ser modificadas conforme os objetivos estratégicos.

São justamente essas variáveis que devem ser exploradas com mais profundidade no Planejamento Estratégico Situacional, pois representam os recursos e os caminhos que a organização pode mobilizar para transformar sua situação atual.

Exemplos práticos:

  • Alocação de equipe e recursos internos;
  • Preços e políticas comerciais;
  • Portfólio de produtos ou serviços;
  • Canais de distribuição;
  • Estratégias de marketing.

Variáveis não controláveis

Já as variáveis não controláveis são aquelas que escapam ao controle direto da organização — mas nem por isso podem ser ignoradas. O planejamento estratégico situacional classifica essas variáveis em três categorias diferentes, com base em sua previsibilidade e impacto:

  • Invariantes: são aquelas que não podemos controlar, mas conseguimos prever com certo grau de confiança. Por exemplo, tendências econômicas, comportamento cambial ou políticas fiscais. Essas variáveis devem ser monitoradas de perto, porque impactam o ambiente de negócios mesmo sem que possamos intervir diretamente nelas.
  • Variantes: essas são mais incertas. Não podemos controlá-las, e tampouco prever seu comportamento com segurança. Um bom exemplo é a movimentação da concorrência ou mudanças abruptas de comportamento do consumidor. Aqui, o mais importante é criar cenários e estratégias alternativas que preparem a empresa para reagir com agilidade.
  • Surpresas: como o nome sugere, são eventos inesperados, de baixa probabilidade, mas alto impacto. Crises políticas, desastres naturais, rupturas tecnológicas ou acidentes industriais entram nessa categoria. Mesmo que sejam difíceis de prever, o PES defende que é necessário estar minimamente preparado para absorver seus impactos e responder rapidamente.

Veja mais: Vantagens e desvantagens do planejamento estratégico: vale mesmo a pena?

Como o Planejamento Estratégico Situacional funciona na prática?

Diferente dos planejamentos tradicionais, baseados em etapas fixas e cronogramas rígidos, o modelo proposto por Carlos Matus organiza o PES em quatro momentos, que se conectam como uma espiral contínua de análise, decisão e ação. Cada momento tem uma função estratégica para transformar problemas reais em soluções viáveis.

Falo mais sobre cada um deles a seguir:

Momento Explicativo

Neste primeiro momento, a liderança deve identificar, descrever e explicar os problemas que se pretende solucionar com o Planejamento Estratégico Situacional.

Tais problemas precisam ser devidamente categorizados de acordo com o grau de prioridade e de impacto que cada um deles exerce sobre a organização. É possível fazer o uso de algumas ferramentas de priorização aqui para te ajudar, como a Matriz GUT, Eisenhower ou Matriz RICE.

image O que é Planejamento Estratégico Situacional: definição e como funciona na prática

Mais do que uma análise fria de indicadores, esse momento vai exigir um alto conhecimento do problema em 360° para captar o que está nas entrelinhas — como resistências internas, fatores culturais, ou dinâmicas externas que influenciam diretamente os resultados.

Momento Normativo

Depois de entender onde a organização está, é hora de olhar para onde ela gostaria de chegar. O momento normativo define a situação ideal: um retrato do cenário desejado caso todos os fatores estivessem a favor. Aqui, o objetivo é desenhar a linha de chegada com clareza — mesmo sabendo que o caminho até lá será turbulento.

É como definir o destino no GPS antes de encarar o trânsito da cidade: você sabe aonde quer chegar, mas está consciente de que terá que recalcular a rota algumas vezes.

Momento Estratégico

Este é o momento de encarar a realidade de frente. No momento estratégico, entram em cena os obstáculos, contradições e limitações que podem dificultar a jornada entre a situação atual e a ideal.

  • Quais recursos estão de fato disponíveis?
  • Quais resistências internas ou externas podem surgir?
  • Quais são os riscos que podem inviabilizar o plano?

É um momento de lucidez — talvez o mais crítico do planejamento estratégico situacional. Em vez de romantizar os objetivos, o PES propõe mapeá-los com os pés no chão, reconhecendo que o sucesso não depende apenas de boas intenções, mas da habilidade de negociar com a realidade.

Momento Tático-Operacional

Por fim, chega a hora de transformar a estratégia em ação. O momento tático-operacional é quando o planejamento ganha corpo: metas são desdobradas em ações concretas, com prazos, responsáveis, orçamentos e formas de monitoramento bem definidos.

Esse momento exige organização e disciplina, mas também flexibilidade.

Lembre-se que o Planejamento Estratégico Situacional é vivo e ele pressupõe que o acompanhamento constante e a capacidade de adaptação são tão importantes quanto a execução em si. Monitorar, aprender e ajustar se tornam práticas contínuas, e não etapas isoladas.

Confira este modelo esquemático dos 4 momentos do Planejamento Estratégico Situacional:

O que é Planejamento Estratégico Situacional
Fonte: Scielo

Exemplo prático

Imagine uma indústria de autopeças com mais de 20 anos de mercado, localizada no interior de Minas Gerais. A empresa sempre teve uma operação sólida, fornecendo para montadoras nacionais. Mas, nos últimos dois anos, viu sua produção desacelerar drasticamente. A causa? Uma mistura de fatores:

  • Redução de demanda por veículos no mercado interno;
  • Aumento nos custos de matéria-prima;
  • Perda de competitividade frente a fornecedores estrangeiros;
  • Dificuldades em adaptar sua linha de produção a novos componentes elétricos, mais demandados com a transição energética.

A diretoria percebe que continuar operando da mesma forma é insustentável. É hora de agir — mas como fazer isso sem cair no erro de traçar um plano fixo e engessado que pode ficar obsoleto em poucos meses?

1. Momento Explicativo

A equipe gestora começa o processo reunindo as lideranças de produção, comercial, engenharia e financeiro. Em conjunto, mapeiam os principais problemas estruturais:

  • Linha de produção inflexível;
  • Alto custo logístico para novos insumos;
  • Perda de contratos importantes com grandes montadoras;
  • Baixa qualificação técnica da força de trabalho para operar novas tecnologias.

Eles classificam esses problemas por impacto e urgência, entendendo que a prioridade número um é adaptar a operação para atender a novas demandas de mercado — principalmente peças para veículos híbridos e elétricos.

2. Momento Normativo

Com os problemas claros, a equipe define a situação ideal: em 18 meses, a empresa pretende estar apta a atender 100% das demandas por peças elétricas de uma nova montadora que está entrando no país. Para isso, será necessário:

  • Adaptar a linha de produção;
  • Reduzir custos operacionais em 15%;
  • Requalificar pelo menos 60% da equipe de chão de fábrica;
  • Firmar dois novos contratos de fornecimento com foco em peças de mobilidade elétrica.

Esse é o cenário desejado — mas, claro, a realidade é mais dura.

3. Momento Estratégico

Aqui, o planejamento ganha maturidade. A empresa reconhece que tem pouco controle sobre o câmbio, nenhuma influência sobre as decisões da concorrência e limitações severas de caixa para investir em grandes mudanças.

Por isso, decide priorizar:

  • Linhas de produção com maior potencial de adaptação com baixo investimento;
  • Treinamentos modulares e internos, mais baratos que programas externos;
  • Negociação com fornecedores locais para redução de custos de logística.

O plano também considera os riscos: possíveis atrasos em licenciamento de novas peças, resistências internas à mudança, dificuldade em reter mão de obra treinada.

4. Momento Tático-Operacional

Com a estratégia desenhada, a empresa passa para a execução coordenada:

  • Um comitê tático é criado para acompanhar o progresso semanal das iniciativas;
  • Cada área recebe metas e prazos curtos, com entregas mensais;
  • A área de RH lidera os treinamentos internos;
  • A área comercial inicia conversas com novas montadoras;
  • Um painel com indicadores estratégicos e operacionais é criado para acompanhar, em tempo real, a evolução das ações.

A cada dois meses, o comitê faz uma revisão do plano — ajustando rumos conforme o mercado responde.

O resultado

O plano, ainda em execução, já deu os primeiros frutos. Em seis meses, a empresa fechou seu primeiro contrato piloto com uma montadora de veículos híbridos. Mais de 40% da equipe já passou pelos treinamentos, e a primeira célula adaptada da linha de produção entrou em funcionamento. O mais importante: a empresa parou de improvisar e passou a agir com intenção e método, mesmo em meio à instabilidade.

Próximos passos

Para empresas que estão enfrentando cenários de mudança, o STRATWs One é um aliado estratégico de ponta a ponta. Mais do que uma plataforma de gestão, ele permite transformar planos em ações com clareza, conectando objetivos, indicadores e iniciativas em um só lugar.

Com ele, é possível criar e acompanhar um planejamento estratégico situacional de forma estruturada, adaptando rotas com agilidade sempre que o contexto exigir.

O software oferece visão em tempo real sobre o desempenho das áreas, facilita o desdobramento das metas e torna muito mais simples a coordenação entre times — mesmo em cenários complexos ou incertos. Com o STRATWs One, sua empresa ganha não apenas controle, mas também inteligência para reagir e decidir com mais confiança, mantendo a estratégia viva e ajustável ao longo do tempo.

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