Mineração e comunidades: o papel da liderança na gestão estratégica

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Acompanhando o setor de mineração nos últimos anos, aprendi que poucos fatores têm tanto peso para o futuro de um projeto quanto a relação entre a empresa de mineração e comunidades locais. Por muito tempo, essa conexão foi vista apenas como um requisito a ser cumprido para viabilizar operações.
No entanto, todas as mineradoras já entenderam que operar em regiões com forte presença de comunidades tradicionais, lidar com as expectativas sociais e responder a pressões de investidores atentos às práticas de ESG exige uma postura inteligente.
Isso porque a forma como é gerenciado a interação entre a mineradora e comunidades, impacta diretamente o ritmo de licenciamento, o custo de operação, a reputação da companhia e claro, o próprio valor de mercado.
Por isso, neste artigo falo um pouco mais sobre como a mineração e comunidades pode travar ou impulsionar o crescimento das mineradoras e o papel do C-Level nessa prática. Continue a leitura e confira!
Por que a relação da mineração e comunidades é estratégica para a alta liderança?
Você com certeza já viu projetos com enorme potencial serem adiados ou até abandonados por falhas graves na gestão da relação entre mineração e comunidades.
Isso porque, quando não existe uma relação estruturada e legítima com os grupos locais, as mineradoras acabam lidando com custos que vão além de multas ou embargos. O que acaba impactando no cronograma de expansão, CAPEX planejado e até no valor de mercado da companhia.
E acredito que você já reparou que essa realidade tem se tornado ainda mais crítica nos últimos anos. Investidores, agências reguladoras e a sociedade em geral têm expectativas muito mais claras sobre o papel social das mineradoras.
É por isso que a alta liderança tem um papel de extrema importância.
É fundamental que C-Levels e demais diretores tenham ciência que a gestão de mineradoras e suas respectivas comunidades não se trata de algo exclusivo do time de sustentabilidade ou de relações institucionais. É, na verdade, uma relação estratégica da organização, que precisa ser integrada à governança (GRC), aos processos de tomada de decisão e ao planejamento de longo prazo.
Projetos de comunidades bem-sucedidos hoje são aqueles que antecipam possíveis tensões sociais, que constroem relacionamentos de confiança desde as primeiras fases de exploração e que incorporam de forma genuína a perspectiva comunitária no desenho das suas operações.
A ideia é que ao mitigar riscos sociais e fortalecer vínculos locais, as mineradoras protegem seu investimento, garantem previsibilidade operacional e pavimentam o caminho para o crescimento sustentável.
Como transformar os riscos em vantagens competitivas?
As grandes mineradoras, que têm buscado uma estratégia mais proativa, têm conseguido conquistar algumas vantagens sustentáveis bastante interessantes junto das comunidades.
Um exemplo no assunto mineração e comunidades que se destacou em 2023, foi o da EcoMinério, que integrou princípios ESG em suas operações, fortalecendo sua posição financeira ao atrair investidores comprometidos com a sustentabilidade e ganhando reconhecimento da comunidade e autoridades reguladoras.
Com algumas boas práticas e uma abordagem realmente focada nas comunidades, ela mitigou riscos e estabeleceu um novo padrão de excelência em responsabilidade ambiental, social e governança que se tornaram referência na melhoria contínua.
Já em 2024, a Mineração Rio do Norte (MRN), firmou um acordo com comunidades quilombolas no Pará, autorizando a abertura de novas minas mediante o compromisso de implementar programas sociais voltados à educação, saúde e geração de renda para beneficiar cerca de 400 famílias.
Esse tipo de parceria tem demonstrado para muitas empresas como o engajamento comunitário pode viabilizar projetos e gerar benefícios mútuos.
5 boas práticas de gestão de comunidades
Reuni aqui cinco boas práticas na gestão da mineração e comunidades locais que a sua empresa deve se atentar:
1. Envolvimento direto da liderança em momentos-chave
Um dos diferenciais observados no projeto Minas-Rio, da Anglo American, foi o envolvimento ativo do board em audiências públicas e negociações comunitárias. Segundo matéria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a participação da alta liderança foi fundamental para reduzir tensões e acelerar a liberação da Licença de Operação.
O impacto foi prático: a operação comercial pôde ser iniciada ainda em 2014, antecipando receita num empreendimento de US$ 8,8 bilhões. Para o C-Level, essa lição é clara: presença executiva em momentos de diálogo estratégico não é custo de tempo, mas sim mitigação de risco e aceleração de crescimento.
2. Integração comunitária ao planejamento estratégico
A Nexa Resources, uma das mineradoras mais avançadas na agenda ESG, publicou em seu relatório de sustentabilidade que metas de impacto comunitário agora são parte da avaliação de desempenho corporativo.
Não se trata apenas de “fazer projetos sociais”, mas de estruturar compromissos sociais com indicadores de sucesso integrados ao modelo de negócio.
Como resultado, a Nexa ampliou o acesso a capital de investidores ESG, impulsionando a viabilização de projetos como a mina de Aripuanã (MT), considerada uma das maiores da nova geração de mineração sustentável da América Latina.
3. Antecipação de conflitos com ferramentas
A BHP, líder global do setor, demonstra em seus relatórios de comunidades locais como utiliza ferramentas de monitoramento social e análise de redes de influência para antecipar tensões.
Um exemplo foi a operação Escondida, no Chile. Com um sistema de inteligência social implantado na região, a BHP conseguiu identificar movimentos de resistência ainda em estágio de organização, evitando greves e bloqueios que poderiam custar mais de US$ 500 milhões em perdas de produção.
Para a alta liderança, fica a mensagem: esperar a crise estourar para agir é um erro estratégico. Sistemas de escuta ativa e análise social são tão críticos quanto sensores geotécnicos para estabilidade de barragens.
4. Programas de valor compartilhado
A experiência da Kinross em Paracatu (MG) é referência nesse tema. De acordo com dados oficiais da companhia, o Programa Integrar investiu R$ 30 milhões ao longo de dez anos, focado em educação técnica, cultura, esporte e empreendedorismo.
O resultado foi palpável: o IDH da região subiu, novas cadeias produtivas foram formadas e a dependência econômica da mineração foi reduzida. Isso fortaleceu a imagem da Kinross não apenas junto às comunidades locais, mas também junto a órgãos ambientais e investidores.
Em projetos minerais, valor compartilhado gera licença social duradoura — e licença social duradoura gera estabilidade operacional.
5. Estratégia de Fortalecimento de Governança
Em Juruti (PA), a Alcoa desenvolveu um modelo robusto de governança comunitária, que inclui conselhos consultivos locais e portais públicos de prestação de contas.
Essa prática permitiu manter canais de diálogo abertos mesmo durante períodos críticos, como pressões fundiárias e negociações de expansão. Como consequência, a Alcoa reduziu significativamente o volume de ações judiciais e melhorou a previsibilidade regulatória, fatores decisivos para continuidade e ampliação de suas operações.
Para líderes de mineradoras, a lição é objetiva: governança não é um “luxo de compliance“, mas sim uma ferramenta real de preservação de valor.
Próximos passos
Para empresas que desejam evoluir sua maturidade de gestão, especialmente no setor de mineração, contar com ferramentas robustas e estratégicas faz toda a diferença.
O STRATWs One é uma plataforma de gestão empresarial desenvolvida para apoiar organizações na execução da estratégia, na governança de indicadores críticos e na visibilidade de ações que impactam diretamente áreas como relacionamento comunitário, ESG, compliance e performance operacional.
Com o STRATWs One, mineradoras conseguem integrar metas sociais e ambientais aos seus objetivos estratégicos, monitorar planos de ação em tempo real, fortalecer a governança de seus projetos e garantir maior previsibilidade na gestão de riscos socioambientais.
É a tecnologia a serviço de uma mineração mais sustentável, eficiente e conectada aos desafios contemporâneos de crescimento e responsabilidade.