Empilhamento a seco: tudo o que você precisa saber sobre

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Nos últimos anos, na busca por iniciativas eficientes e sustentáveis, o setor de mineração tem vivido um período de intensas transformações. Não à toa, o termo empilhamento a seco tem sido tão debatido.
Acompanhando de perto alguns dos clientes da Siteware do setor de mineração, notei o uso dessa tecnologia e vejo um grande potencial nela.
Na teoria, pode até parecer simples. Mas quem está na linha de frente da mineração sabe que implementar essa solução envolve desafios técnicos, investimentos significativos e uma mudança de mentalidade dentro das organizações.
Apesar disso, o avanço do empilhamento a seco tem se mostrado uma forte resposta aos desastres que marcaram a história recente da mineração brasileira.
Empresas que investiram na tecnologia estão colhendo resultados no aumento da segurança, fortalecimento de reputação junto a comunidades e investidores e órgãos reguladores.
A seguir, te apresento tudo o que você precisa saber sobre o tema. Confira.
O que é empilhamento a seco?
O empilhamento a seco é uma técnica de disposição de rejeitos que elimina a necessidade de barragens com rejeito líquido.
Dessa forma, em vez de armazenar os resíduos em grandes reservatórios de água, o processo de empilhamento a seco passa pela filtragem do material, reduzindo drasticamente o seu teor de umidade até que ele atinja uma consistência sólida, semelhante a um bolo filtrado.
Essa massa sólida é então transportada e empilhada em camadas controladas, sobre uma base preparada para garantir estabilidade e drenagem adequada.
Ao final do processo, o que temos é um depósito de rejeitos com muito mais segurança, minimizando os riscos de liquefação (o solo perde a rigidez) e rompimento que, infelizmente, marcaram episódios trágicos no setor.
Para quem atua na mineração, é evidente o avanço que o empilhamento a seco representa em relação às tecnologias tradicionais.
Isso porque, além de reduzir significativamente o risco ambiental e social, essa prática atende às exigências cada vez mais rigorosas de órgãos reguladores e à expectativa da sociedade por uma mineração mais responsável.
Como funciona o empilhamento a seco?
Logo após o beneficiamento do minério, quando os rejeitos são separados, os rejeitos ainda possuem um alto teor de água, o que os deixa com aspecto de polpa ou lama.
Dessa forma, no empilhamento a seco, ao invés de serem direcionados para uma barragem, eles seguem para um sistema de filtragem.
Os filtros prensa, ou filtros a vácuo, são as tecnologias mais utilizadas nesse processo e o objetivo deles é retirar a maior quantidade de água possível, deixando o material com umidade baixa — algo em torno de 15% a 20%, dependendo do tipo de rejeito e da tecnologia empregada.
Depois dessa filtragem, o rejeito assume uma consistência sólida e pode ser transportado até áreas específicas para a sua disposição.
Ao longo do processo, o empilhamento a seco é feito em camadas, com controle rígido de compactação e drenagem para garantir a estabilidade da estrutura. Além disso, sistemas de drenagem costumam ser implantados para evitar qualquer acúmulo de água que possa comprometer a segurança da pilha.
Além disso, é importante destacar que o empilhamento a seco exige um planejamento detalhado da área onde o rejeito será depositado. Para isso, o solo precisa ser preparado para suportar o peso das pilhas e permitir que a drenagem ocorra de forma eficiente.
Dessa forma, o monitoramento rotineiro das áreas é parte fundamental do processo. E aqui entra o uso de tecnologias como sensores de estabilidade e drones para inspeção periódica.
Por que é importante?
Três pilares se destacam dentre os benefícios da prática de empilhamento a seco. São eles:
1- Redução expressiva de riscos operacionais e socioambientais
Ao longo dos últimos anos, eu vi (e imagino que você também) como a segurança das operações se tornaram uma prioridade absoluta. E não é para menos.
Tragédias envolvendo barragens de rejeitos, como as que marcaram Mariana e Brumadinho, mudaram para sempre a percepção sobre a responsabilidade socioambiental da mineração.
Nesse cenário, o empilhamento a seco se consolidou como uma alternativa que praticamente elimina o risco de rompimento dessas estruturas.
Ao retirar a água dos rejeitos, a técnica impede a liquefação do material — um dos principais fatores de instabilidade em barragens tradicionais.
2- Atende às exigências de regulamentação e melhora a reputação corporativa
Nos últimos anos, os órgãos reguladores aumentaram a pressão sobre as mineradoras para que adotem práticas mais seguras e sustentáveis.
Além de atender a essas exigências legais, a adoção dessa tecnologia tem um impacto direto na imagem corporativa das mineradoras.
Em um mercado global cada vez mais atento a critérios ESG (Environmental, Social and Governance), líderes que escolhem investir no empilhamento a seco demonstram compromisso real com a segurança, o meio ambiente e as comunidades do entorno.
E aqui, não estamos falando apenas de uma percepção pública. Bancos, fundos de investimento e stakeholders institucionais já consideram essas iniciativas um critério relevante para a concessão de crédito e para a manutenção de parcerias estratégicas.
Leia também: ESG na mineração: como as mineradoras têm atuado em 2025
3- Contribui para a sustentabilidade e otimização do uso da água
O empilhamento a seco também tem um papel fundamental na gestão dos recursos hídricos, um tema sensível na mineração moderna.
Isso porque ao extrair a maior parte da água dos rejeitos para sua disposição, a técnica possibilita o reaproveitamento dessa água no próprio processo produtivo.
Em regiões de escassez hídrica, como boa parte dos polos mineradores brasileiros, isso representa um diferencial competitivo inegável.
Alguns benefícios diretos dessa prática ainda se destacam:
- Redução do consumo de água bruta: menos captação em rios e aquíferos.
- Diminuição do impacto nos mananciais locais: atendendo a condicionantes ambientais.
- Maior eficiência operacional: com processos industriais menos dependentes de água externa.
Principais desafios da área
Infelizmente, colocar o empilhamento a seco pode não ser tão simples. Alguns dos desafios que as mineradoras precisam superar para colocá-lo em prática costumam ser:
1- Alto investimento inicial e custo operacional elevado
Não há como ignorar que os custos com a instalação de filtros prensam de alta capacidade, infraestrutura para transporte e área de empilhamento são significativamente maiores do que o método tradicional de disposição de rejeitos em barragens úmidas.
Além disso, o custo operacional também é mais alto. Isso porque o consumo de energia dos filtros, a manutenção dos equipamentos e o transporte dos rejeitos secos exigem uma estrutura robusta e constante acompanhamento técnico.
Ainda assim, é importante fazer uma análise de longo prazo. Muitas mineradoras que acompanhei de perto já perceberam que o retorno vem, seja pela redução de passivos ambientais ou pela valorização de mercado que empresas com práticas ESG consolidadas conseguem atingir.

2- Limitação técnica em alguns tipos de rejeitos
Nem todo rejeito de mineração se comporta da mesma maneira quando passa pelo processo de filtragem.
Ou seja, dependendo da granulometria, da composição mineralógica e da quantidade de finos, a eficiência da filtragem pode ser comprometida, dificultando o processo de empilhamento a seco.
Em alguns casos, pode ser necessário um pré-tratamento mais sofisticado ou o uso de reagentes para melhorar a drenabilidade do material, o que aumenta ainda mais a complexidade e o custo do processo.
Isso sem falar na necessidade de testar e adaptar continuamente a tecnologia às condições específicas de cada operação mineral.
3- Disponibilidade de áreas para disposição dos rejeitos secos
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a necessidade de espaço físico para o empilhamento a seco.
Isso porque os rejeitos filtrados ocupam uma área considerável, já que o volume do material sólido a ser disposto é grande, mesmo com a remoção da água.
Algumas operações mineradoras, principalmente aquelas localizadas em áreas de relevo acidentado ou regiões já saturadas de atividades, encontram dificuldades para destinar áreas apropriadas para o empilhamento.
Cases de sucesso
A Vale, uma das maiores mineradoras globais, tem investido significativamente na adoção do empilhamento a seco como alternativa sustentável à disposição tradicional de rejeitos em barragens.
Entre 2020 e 2023, a empresa destinou aproximadamente R$ 1,5 bilhão para implementar essa tecnologia em suas operações em Minas Gerais.
Essa iniciativa permite filtrar e reutilizar a água presente nos rejeitos, possibilitando que o material sólido resultante seja empilhado de forma segura, reduzindo a dependência de barragens.
Atualmente, cerca de 60% da produção da Vale já utiliza processamento a seco, com a meta de alcançar 70% nos próximos anos.
Além de aumentar a segurança operacional, a adoção do empilhamento a seco pela Vale contribui para a sustentabilidade ambiental, minimizando impactos e promovendo a economia circular no setor mineral.
Leia também: Siteware e STRATWs na otimização da Performance Corporativa da Vale
Próximos passos
A Vale, parceira da Siteware desde 2005, entende que a busca por inovação e segurança em suas operações vai além da adoção de tecnologias como o empilhamento a seco.
A empresa também investe de forma consistente em gestão estratégica e governança, utilizando o STRATWs One como ferramenta para garantir que seus objetivos sejam desdobrados de forma clara e eficiente em todas as unidades de negócio.
É por meio dessa plataforma que a Vale assegura o alinhamento de metas, o acompanhamento de indicadores críticos e a execução das suas iniciativas estratégicas — inclusive aquelas relacionadas à sustentabilidade e à gestão de rejeitos.
Se a sua empresa está avaliando a implementação do empilhamento a seco, ou já iniciou esse processo, sabe que ele precisa estar inserido em uma gestão robusta, que permita visualizar riscos, oportunidades e resultados de forma integrada.
O STRATWs One é exatamente essa solução: uma plataforma que conecta o planejamento estratégico à execução, ajudando grandes mineradoras como a Vale a manterem o controle de projetos, a produtividade das equipes e a segurança operacional em patamares de excelência.