Captura e Armazenamento de Carbono: um guia completo 

Guilherme Rabello

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Nos últimos anos, o termo Captura e Armazenamento de Carbono passou a ocupar um espaço cada vez maior nas discussões sobre sustentabilidade corporativa. Desde o Acordo de Paris, em 2015, estabeleceu-se metas globais para conter o aquecimento do planeta abaixo de 2°C – com esforços para limitar o aumento a 1,5°C – e o mundo corporativo foi chamado a assumir um novo protagonismo. 

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), não há caminho para alcançar essas metas sem o uso intensivo da Captura e Armazenamento de Carbono. A previsão é de que essa tecnologia seja responsável por evitar até 8% das emissões acumuladas de CO₂ até 2050. 

Dessa forma, para líderes empresariais que atuam em setores de alta emissão – como a mineração –, essa é uma agenda obrigatória. 

No entanto, embora a Captura e Armazenamento de Carbono seja considerada uma das soluções mais promissoras para conter as emissões industriais, ela ainda carrega uma série de controversas e desafios práticos. 

Alguns especialistas chegam a classificar o processo como uma “solução temporária” ou até mesmo uma “fraude verde”, questionando sua viabilidade econômica e o real impacto ambiental. 

Neste artigo, te explico todo a discussão envolvendo esse tema. Continue a leitura que eu te ajudo! 

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O que é a Captura e Armazenamento de Carbono (CAC/CCS)? 

A Captura e Armazenamento de Carbono é um conjunto de tecnologias que tem o objetivo de impedir que o dióxido de carbono (CO₂) chegue à atmosfera. 

A ideia da tecnologia é capturar o carbono emitido em processos industriais de alta intensidade – como mineração, siderurgia, produção de cimento e geração de energia –, transportá-lo e armazená-lo de forma permanente em reservatórios subterrâneos seguros. 

Os primeiros testes com resultados foram na década de 90, com destaque para aqueles realizados na Noruega. 

Por que o processo é chamado de “fraude” por alguns? 

Apesar de ser considerada uma solução promissora para conter as emissões industriais, a Captura e Armazenamento de Carbono tem sido alvo de críticas duras de alguns especialistas, pesquisadores e organizações ambientais. 

Para muitos, o ceticismo não é apenas técnico, mas ético. Alguns chegam a classificar o CCS como uma “fraude verde” ou um greenwashing corporativo. 

Isso porque o CCS não é uma solução definitiva para a crise climática, mas sim um paliativo. A tecnologia se propõe a capturar o carbono após ele já ter sido emitido, em vez de atacar o problema pela raiz, reduzindo o uso de combustíveis fósseis ou investindo em processos produtivos mais limpos. 

Ou seja, ela permite que atividades intensivas em carbono continuem operando, com a promessa de que o dano será “corrigido” depois. Para muitos críticos, isso abre margem para postergar a transição energética real. 

Além disso, segundo dados da Global CCS Institute, embora existam hoje mais de 190 projetos de Captura e Armazenamento de Carbono em desenvolvimento ou operação no mundo, a capacidade atual de captura representa apenas cerca de 0,1% das emissões globais anuais de CO₂. 

Um volume considerado insignificante frente à urgência climática

Outra crítica frequente diz respeito aos altos custos e à viabilidade econômica. Isso porque a Captura e Armazenamento de Carbono exige investimentos massivos em infraestrutura de captura, transporte e armazenamento. 

Em muitos casos, o custo por tonelada de CO₂ capturada pode ultrapassar os US$ 100 (em valores atualizados de 2024), tornando o processo inviável sem subsídios públicos ou políticas de precificação de carbono agressivas. 

Por último, mas ainda bastante polêmico, um dos pontos mais discutidos sobre o assunto, é que o CO₂, quando capturado, pode ser utilizado para a técnica chamada “recuperação avançada de petróleo” (EOR – Enhanced Oil Recovery). 

Nesse processo, o carbono é injetado em poços de petróleo maduros para aumentar a produção. 

Dessa forma, críticos apontam que, ao invés de contribuir para reduzir as emissões globais, a prática pode estar financiando a expansão da indústria de combustíveis fósseis, o que contraria a lógica de mitigação climática. 

Como funciona o processo de captura e armazenamento de carbono? 

De forma simplificada, a captura e armazenamento de carbono é uma cadeia de etapas tecnológicas que se conectam para evitar que o CO₂ chegue à atmosfera. Embora o conceito seja direto, a execução exige conhecimento técnico, investimento e planejamento estratégico. 

Etapa 1: Captura do CO₂ 

O primeiro passo do processo de Captura e Armazenamento de Carbono, é a captura do dióxido de carbono na fonte de emissão. No caso da mineração, por exemplo, isso pode ocorrer em unidades de processamento mineral, fundições ou em sistemas de geração de energia usados nas operações. 

Existem três principais métodos de captura: 

  • Pós-combustão: o CO₂ é separado dos gases de exaustão após a queima de combustíveis fósseis. Esse é o método mais comum e, em muitos casos, o mais viável para adaptar plantas industriais já existentes. 
  • Pré-combustão: o carbono é removido antes mesmo do combustível ser queimado, geralmente em processos que convertem o combustível em gás de síntese. 
  • Oxi-combustão: o combustível é queimado em um ambiente de oxigênio puro, o que facilita a separação do CO₂ puro dos gases residuais. 

Etapa 2: Transporte do CO₂ capturado 

Após a captura, o dióxido de carbono é comprimido e transportado até o local de armazenamento. Esse transporte geralmente é feito por dutos (pipelines) – solução comum em regiões com hubs industriais próximos –, mas também pode ocorrer por caminhões ou navios, dependendo da localização das minas e das opções logísticas disponíveis. 

Para operações de mineração remotas, típicas no Brasil e em países com grandes reservas minerais, o desafio logístico pode ser um fator crítico a ser considerado na viabilidade do projeto de captura e armazenamento de carbono. 

Etapa 3: Armazenamento geológico do CO₂ 

O passo final é o armazenamento geológico, onde o CO₂ é injetado em formações subterrâneas estáveis. Existem diferentes tipos de reservatórios: 

  • Aquíferos salinos profundos, que são vastas camadas de rochas porosas cheias de água salgada, situadas a profundidades superiores a 800 metros. 
  • Reservatórios de petróleo e gás esgotados, que já provaram sua capacidade de reter fluidos por milhões de anos. 
  • Formações basálticas, ainda em estudo, mas com potencial de mineralizar o CO₂. 

Os principais desafios para a captura e armazenamento de carbono 

Ao analisar as reais possibilidades de implementar a captura e armazenamento de carbono em uma empresa de mineração, é fundamental ter clareza dos principais pontos de atenção. A seguir, compartilho os três desafios que considero mais relevantes para quem está liderando essa conversa dentro do negócio. 

1- Alto custo de implementação e operação 

A captura e armazenamento de carbono é, hoje, uma tecnologia cara. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), o custo médio para capturar uma tonelada de CO₂ varia entre US$ 40 e US$ 120, dependendo do setor e da tecnologia utilizada. 

Dessa forma, em operações de mineração, que já possuem margens pressionadas por volatilidades de mercado e altos custos de operação, esse investimento pode ser um entrave. 

Além disso, o custo não se resume à captura em si. A construção de dutos, instalações para compressão, transporte e a perfuração de poços de armazenamento também exigem um capital considerável. 

Esse é um dos motivos pelos quais muitos projetos só avançam quando contam com incentivos fiscais, subsídios governamentais ou um preço de carbono regulado

2- Logística de transporte do CO₂ 

As operações de mineração muitas vezes estão localizadas em áreas remotas, longe de infraestrutura que facilite o transporte do CO₂ capturado para os locais de armazenamento. 

Assim, a construção de pipelines dedicados ou a necessidade de utilizar modalidades alternativas de transporte, como caminhões ou navios, não só encarecem o processo, mas também aumentam a complexidade logística. 

Além disso, transportar CO₂ comprimido requer cuidados técnicos rigorosos para garantir a segurança e a integridade do material durante todo o trajeto. 

3- Falta de regulamentação e segurança jurídica 

No Brasil e em outros mercados emergentes, a regulamentação para captura e armazenamento de carbono ainda é incipiente. 

A insegurança jurídica sobre questões como propriedade do CO₂ armazenado, responsabilidade em caso de vazamento e licenciamento ambiental pode atrasar ou até inviabilizar projetos. 

O Brasil, por exemplo, já tem algumas iniciativas legislativas em andamento para regulamentar o armazenamento geológico de CO₂, mas ainda carece de uma legislação consolidada que dê segurança para investidores e operadores de mineração interessados em avançar com projetos de CCS. 

Exemplos de projetos 

Para ilustrar como a captura e armazenamento de carbono está sendo aplicada na prática, selecionei dois projetos de destaque que têm obtido resultados significativos. 

1- Projeto CarbFix na Islândia 

O CarbFix é um projeto inovador que transforma CO₂ em pedra, proporcionando um método de armazenamento permanente. 

Iniciado lá em 2012, o projeto envolve a captura de CO₂ das emissões da usina geotérmica de Hellisheidi, dissolvendo-o em água e injetando-o em rochas basálticas subterrâneas. 

Lá, o CO₂ reage com os minerais presentes, formando carbonatos sólidos em um processo que leva apenas alguns anos. Desde 2014, o CarbFix captura e armazena cerca de 12.000 toneladas de CO₂ por ano, demonstrando uma solução eficaz e segura para a mitigação das emissões de carbono. 

2- Programa de CCUS da Petrobras no Brasil 

No Brasil, a Petrobras implementou um dos maiores programas de captura, utilização e armazenamento de carbono do mundo. 

Desde 2008, a empresa vem reinjetando CO₂ nos reservatórios do pré-sal, tanto para melhorar a recuperação de petróleo quanto para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. 

Em 2022, a Petrobras reinjetou 10,6 milhões de toneladas de CO₂, representando cerca de 25% do total mundial de CO₂ armazenado geologicamente naquele ano. 

A meta da empresa é acumular 80 milhões de toneladas de CO₂ reinjetadas até 2025, consolidando-se como líder na aplicação de tecnologias de CCUS. 

Próximos passos 

A adoção de tecnologias como a captura e armazenamento de carbono exige muito mais do que investimentos em infraestrutura. 

É fundamental que as empresas de mineração contem com uma gestão estratégica robusta, capaz de garantir o alinhamento entre as metas de sustentabilidade, o planejamento operacional e a execução das ações no dia a dia. 

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